Resiliência ao Estresse

Resiliência ao Estresse

Claudiney Fullmann

No processo de desenvolvimento da liderança promovido pela Revista Venda Mais, em janeiro deste ano discorri sobre os parâmetros com que o líder de vendas trabalha para que ele e seus liderados sejam éticos, ou seja, que façam algo em benefício próprio e, no mínimo, não prejudiquem o outro.

Em março abordei o assunto iniciativa, comentando que uma equipe é reflexo de seu líder. Para que a equipe vise o sucesso, cabe ao líder a iniciativa de motivar-se e, simultaneamente, estimular os demais a “cometerem loucuras” – nada fora dos padrões éticos – mas inovadoras, que vão além das reconhecidas como mínimo necessário para não sair da zona de conforto.

Em maio foi a vez do comprometimento, que é obrigação por compromisso – é palavra – aquela que, como no passado, era honrada ao fio do bigode. Portanto, antes de tudo, o líder precisa ser capaz de comprometer-se com a palavra dada, sem se esquivar por trás de desculpas defensivas.  O compromisso com a verdade é imbatível. Ninguém tolera líder que não “sustenta em pé o que falou sentado”.

Cada ênfase a essas atitudes essenciais do líder carrega sua posição de maior responsabilidade, onde tem o máximo a ganhar se for bem-sucedido e o máximo a perder caso falhe.

Há pressões constantemente recebidas de todos os lados – da chefia, dos subordinados, dos clientes, da família, da sociedade – e, principalmente de nossas próprias exigências: questão de honra, brios e desafios. Em certos momentos, sentimo-nos incapazes de responder a tudo e, como num circuito fechado de bombeamento, realimentamos os problemas em nossa cabeça até chegarmos ao fim do dia esmagados, esgotados, derrotados. E o cansaço de nossa mente propaga-se para todo o físico…

Pronto, nasceu o estresse!

Antigamente sequer conhecíamos esse termo. As pessoas ficavam cansadas fisicamente. Um repouso, com um tempo semelhante ao do desgaste, é suficiente para recarregar as energias e “estar pronto para outra”. Mas o estresse, principalmente o de ordem psíquica, não se ajusta nem com férias prolongadas.

O que diferencia mais uns líderes de outros, na sua capacidade de suportar o estresse, é a harmonia dedicada em sua vida pessoal e profissional. Na sua gestão do tempo, suas 24 horas diárias são aproximadamente distribuídas em 8 horas para o sono, 8 para o trabalho e 8 para outras atividades como deslocamento, lazer, família, estudos.

Sabemos que não é possível deixar no caminho de casa os problemas do trabalho e recolher os outros problemas de ordem geral, bem como, no dia seguinte, no retorno ao trabalho, despejar na sarjeta o que trouxe de casa e pegar novamente as preocupações profissionais. Nossa cabeça não funciona assim. As preocupações nos acompanham por toda a parte e muitas vezes nos vemos encontrando soluções nas mais banais atividades e em momentos desconexos dos problemas. Este momento foi definido como “eureka” – o insight.

É fácil falar para alguém não se preocupar. Mas é difícil dizer isto para nós mesmos, a menos que nos preparemos para ordenar nossos pensamentos e colocar em prática conhecidas filosofias e técnicas para mantermos nossa qualidade de vida. É necessário condicionamento, tanto físico como psicológico. O primeiro para ter  ânimo, garra, disposição. Caminhadas, alimentação adequada, velocidade sem afobação permitem resistir a períodos maiores de atividade sem fadiga. O segundo é fruto do pensamento. Além do humor, que é um bom antídoto do estresse, a atitude mental de “aceitar o que não pode mudar e mudar o que não pode aceitar” dirige as ações para o que é relevante em vez de ocupação prévia com o desconhecido – pré-ocupação do cérebro – a famosa preocupação.

Originária na física, a resiliência é definida como propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica*. Trazida para nossa vida moderna, é a capacidade de sofrer pressão sem se desgastar. Os pinheiros, em países com inverno rigoroso, permanecem verdes e seus galhos não se quebram com o peso da neve porque são flexíveis. Seus galhos curvam-se para a neve escorregar e voltam à sua imponente condição natural. As outras árvores, rígidas, perdem suas folhas e seus galhos se quebram diante das tempestades. Que tipo de árvore quer ser você: rígida ou flexível para ser resiliente ao inverno da vida?

Como a mente comanda o físico, um líder ético, comprometido e com iniciativa que, acima de tudo, mantém seu entusiasmo (palavra derivada do grego: en Theos mos, ou seja, ter Deus dentro), tem grande resiliência. Ele adquire maior resistência ao observar a natureza, sentir o perfume das flores coloridas, sorver o ar puro das montanhas, sentir o toque do sol e da água do mar nas praias, assobiar, cantar, dançar ao vento. Um grande líder mantém-se em sintonia com o universo. Nada o perturba; sua conduta inspira seus seguidores, e as vitórias se sucedem.

É necessário, antes de mais nada, a conscientização de que precisamos mudar para preservar e harmonizar nossa saúde – física, psíquica, espiritual, familiar, social e financeira. Para isso, devemos nos condicionar, com disciplina, para uma melhor gestão de nosso tempo, uma melhor produtividade e, com isso, alcançarmos em nosso trabalho “mais resultado com menos esforço”. Para tudo há um tempo certo. Dê um tempo a si mesmo. Exercícios físicos regulares, exercícios para a mente e memória, lazer e repouso devem fazer parte de nossa rotina para ampliar nossa resiliência ao estresse.

Finalizo com um relato do historiador Heródoto sobre a resposta de um grande rei egípcio chamado Amassis, quando criticado por sua rotina de trabalho diário seguida de uma tarde de prazer: “Quando um arqueiro vai à guerra, ele estica as cordas do arco até ficarem tensas. Quando a caça termina, ele tira as cordas de novo. Se não as tirasse, o arco perderia sua utilidade e não valeria nada quando dele precisasse novamente.

  • Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa