Relatórios
Por Claudiney Fullmann
Edição 10/2011
A prática eficaz
Escreve-se para poder ler depois. Cartas, memorandos, mensagens, notas ou relatórios têm o propósito de comunicar algo para alguém, seja em papel ou por meio eletrônico. Notas são de cunho íntimo para memorizar uma situação. Como o destinatário é o próprio autor, o uso indiscriminado de abreviações é aceitável, pois quem vai ler é a mesma pessoa que escreveu.
Mensagens já têm outro destino, outra pessoa vai ler. Na onda do MSN, o linguajar é restrito à tribo que tem seus códigos de entendimento. Quem não pertence ao grupo dificilmente entende a distorção de qualquer língua escrita.
Cartas para uso pessoal ou comercial já requerem uma redação mais elaborada, com alguma formalidade, sem perder a cortesia de um bom relacionamento. Memorandos e relatórios são impessoais e destinados a disparar ações simples ou decisões complexas.
Os memorandos podem ainda guardar informalidades, pois normalmente são internos, entre departamentos, para solicitar informações ou providências a fim de atender ao processo do negócio da empresa. Os e-mails usam as vantagens da internet e intranet e ajudam na correção de textos dos menos capacitados a escrever, já que a maioria prefere só falar e não escrever. A comunicação verbal pode gerar mais mal-entendidos, enquanto a escrita busca formalizar o entendimento. Quem não gosta de se comprometer prefere não escrever; é mais fácil desmentir depois.
Relatórios são mais profissionais e requerem seriedade. Um relatório médico, de pesquisa ou de resultados de vendas apontam diagnósticos ou desempenhos que originarão outras ações. É importante lembrar que “escrever é a arte de economizar palavras”! A ver o que cita Mark Twain, que elaborou: “Desculpe-me por escrever-lhe uma carta longa, por não ter tempo de escrever-lhe uma curta”. Ou seja, um bom relatório requer tempo para ordenar pensamentos, selecionar as palavras mais precisas e dar-lhe fluidez de leitura. Para isso, deixo-lhes algumas dicas!
O que é um relatório
Relatório é uma apresentação escrita para transmitir informação a um determinado leitor, de forma imparcial, sucinta e clara, respondendo as perguntas básicas: o que, quem, onde, quando, quanto e como, entremeados por um constante por que. É um relato que, dependendo da finalidade e da agilidade desejada, pode simplesmente ser um formulário padronizado (para acompanhar metas, por exemplo) ou mais complexo, como é o caso de relatórios de P&D, ou para reportar uma situação que requer o seu registro e decisões.
Quem (em que nível se encontra)
- Ordena ou solicita.
- Redige.
- Recebe o relatório.
- Recebe cópia do relatório.
A linguagem de um relatório sempre será compatível com o nível do leitor – presidente, diretor, gerente, supervisor, operadores, clientes, fornecedores, autoridades… Embora possa ter o cunho do redator, um relatório deve ser compreensível até para um leigo.
Sobre o que (assunto ou problema)
Para um exemplo simples, suponhamos a investigação sobre a ocorrência de um defeito em um objeto.
- O que acontece
- Qual é o objeto com defeito?
- Qual é o defeito no objeto?
- Onde acontece
- Onde foi observado o objeto com defeito?
- Onde o defeito foi observado no objeto?
- Quando acontece
- Quando foi observado o objeto com defeito?
- Em que circunstâncias foi observado o objeto com defeito?
- Quanto acontece
- Qual é a dimensão, alcance ou volume do defeito observado?
- Quantos são os objetos com defeito?
Quando se faz (em que momento ou periodicidade)
- Preliminares
- Progressivos
- Periódicos Parciais
- Mensais
- Finais
Elementos de um relatório (como deve ser composto)
Índice – É a amarração de títulos e subtítulos às páginas correspondentes para facilitar a busca do assunto.
Símbolos e abreviações – Definir aqueles não consagrados logo no início do relatório.
Sumário ou síntese – Importante para aqueles que precisam saber do assunto sem se preocupar com muitos detalhes. Basta 10% do volume do relatório.
Introdução – Mostra os antecedentes. O relator prepara o leitor para o raciocínio desenvolvido no corpo do relatório. Deve conter a finalidade e escopo. É um chamariz para motivar a leitura completa.
Corpo – É a descrição detalhada do assunto em pauta. Pode ser subdividido em:
- Considerações.
- Causas.
- Possíveis efeitos.
- Medidas adotadas.
- Resultados esperados.
Conclusão – É o encerramento embasado na análise e opinião sobre os fatos apresentados:
- Apresenta soluções ou recomendações.
- Correlaciona-se com a introdução.
- Não é o sumário ou repetição do assunto contido no corpo.
- A conclusão pode ser maior que o corpo.
- Contém comentários, análises e interpretações.
Anexos – São complementos citados no corpo e que facilitam a compreensão.
Bibliografia – No caso de relatórios de pesquisas científicas, para fins acadêmicos ou para publicação, toda literatura consultada deve ser referendada, de acordo com práticas internacionais em uso e normas da ABNT.
Regras básicas de um relatório
- Perguntar-se sempre: tenho em mãos os elementos necessários para redigir um relatório completo sobre o assunto?
- Avaliar a credibilidade das fontes consultadas.
- Avaliar o relacionamento das fontes com o problema (ver imparcialidade).
- Identificar quem lerá o relatório.
- Certificar-se de que o estilo é o correto para o leitor.
- Certificar-se de que a linguagem usada é apropriada para o leitor (matemática, verbal, química, gráfica, desenhos, fotografias, tabelas).
Grafias
As regras gramaticais devem ser observadas, mas destaco alguns exemplos comuns em relatórios: escrever por extenso números iniciando um período (ex. duas mil pessoas compareceram…), números aproximados (aproximadamente três mil pessoas…). Não devem ser escritos por extenso: números decimais (0,035), porcentagem (7%), entre outros. Separar por ponto os números de cinco ou mais algarismos: 93.450 e 1.435.331.
Teste sua redação
Seu texto está:
- Completo?
- Dá todas as informações necessárias?
- Responde a todas as indagações que o leitor possa fazer?
- Conciso?
- Contém apenas o essencial?
- Encerra somente frases indispensáveis?
- Claro?
- Linguagem apropriada para os leitores?
- São palavras simples que traduzem seus pensamentos?
- A estrutura da frase é clara?
- Há longos períodos?
- Cada parágrafo contém uma ideia central?
- As ideias estão ordenadas?
- Correto?
- A informação é precisa?
- Os elementos estão dispostos com habilidade?
- A redação está isenta de incorreções de grafia, concordância e pontuação?
- Em tom apropriado?
- Esse tom produzirá o efeito desejado?
- Está livre de palavras que possam provocar rivalidade?
- Está livre de frases afetadas, formalísticas ou chavões?
Se você estiver satisfeito, provavelmente o leitor também ficará! As mesmas diretrizes gerais para elaboração de um relatório são aplicáveis para elaborar um dossiê. Um dossiê é mais estruturado, contendo um conjunto de informações, relatos e documentos com comprovações de fatos ou pesquisas para auxiliar na busca da causa de eventuais problemas ou na implementação de novas soluções. Enfim, o dossiê será a base para a tomada de decisão.