Planejamento Tático 

Planejamento Tático 

Claudiney Fullmann 

O planejamento estratégico deve ter sido feito. Foram verificados os cenários, escolhidos os mercados, as estratégias operacionais, os planos de investimentos e de desenvolvimento do capital humano, e as análises dos concorrentes.

Uma simples extrapolação dos resultados obtidos é tão perigosa quanto dirigir um automóvel olhando apenas pelo retrovisor, com um plástico preto cobrindo o para-brisa. O que ocorreu no passado pode não se repetir igualmente no futuro próximo. Se mercados mudam, se concorrentes mudam, se tecnologias mudam… Permanecer na mesma estratégia não é recomendável.

Às lideranças compete a formulação de estratégias empresariais, das quais resultarão definições sobre a posição que a empresa ocupará no mercado, sua imagem, principais políticas, e as contribuições econômicas e não econômicas que pretender dar aos acionistas, clientes, empregados e comunidade.

No planejamento estratégico foi elaborada uma antevisão do campo de batalha a ser atravessado durante o novo ano fiscal para chegar a um lucro, e consequentemente um retorno sobre o investimento, superior, ou pelo menos igual, ao do ano anterior. Chegou o momento do tático.

Segundo o dicionário Aurélio, planejamento é “trabalho de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados; elaboração por etapas, com bases técnicas, de planos e programas com objetivos definidos.”

“Tática, do grego taktiké, é a arte de manobrar tropas. 1. Parte de arte de guerra que trata da disposição e da manobra de forças durante o combate ou na iminência dele. 2. Parte da arte da guerra que trata de como travar um combate ou batalha. 3. Processo empregado para sair-se bem em um empreendimento. 4. Meios postos em prática para sair-se bem em qualquer coisa.

“Tático, do grego taktikós, é algo capaz de colocar em ordem; movimento tático”.

Planejamento tático, portanto, é a preparação de um plano detalhado e preciso do que (ações), como (meios, recursos) e quem (área/função) agirá, motivado pelo comprometimento de reunir forças, pensamentos e instrumentos para a realização das tarefas previstas. Tais planos deverão prever consequências negativas, reações adversas e obstáculos que podem surgir durante o movimento.

Ele é uma transição entre Planejamento Estratégico e Plano de Ação, a fim de programar uma estratégia já criada e trabalhar formalmente as implicações que possam surgir. Essencialmente analítico por natureza, constitui-se da decomposição do planejamento estratégico em diversos planos e diretrizes.

Os líderes das áreas de engenharia, marketing e comercial, logística e industrial devem estar bem sintonizados nos momentos de lançamento de novos produtos, ampliação da capacidade de produção, movimentos da concorrência e mudanças no comportamento dos consumidores. Análises rápidas e precisas devem ser focadas no cliente e nos resultados econômicos da empresa.

Os movimentos táticos devem ser ágeis e surpreendentes. No comércio eletrônico a velocidade das informações ficou vertiginosa. A publicidade da marca e a propaganda de um determinado produto ou serviço encontra reação instantânea dos consumidores. Com poucos cliks eles selecionam, comparam, compram e pagam durante vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.

Como a tecnologia, a qualidade e o preço são julgados no instante de decisão da compra, a promessa de entrega em determinada data passa a ser o fator de ansiedade do consumidor. Prazo curto e pontualidade são hoje os principais fatores de diferenciação, o que implica movimentos táticos precisos dos fornecedores e distribuidores.

Na sociedade contemporânea, no mundo da velocidade e do imediatismo, sabe-se que há intolerância a atrasos. Ninguém gosta de esperar pelo cumprimento de uma promessa ou acordo, mesmo que verbal.

Para implantar as ações visualizadas no planejamento estratégico são necessárias competências básicas do planejamento tático:

  • Habilidade para detectar descontinuidades – Sabe-se que ambientes não mudam com base em algo regular ou ordenado. A natureza nos ensina. Assim como os brotos de uma planta podem afetar seu crescimento, ou o vento e a luz podem alterar sua conformação, o mesmo acontece com o plano tático. Os líderes precisam ter uma mente aguçada em contato com a situação, já que descontinuidades são inesperadas e irregulares. Ao iniciar um plano nem sempre se pode deixá-lo correr solto, porque qualquer vento desfavorável interfere no seu rumo.
  • Habilidade para cambiar pensamentos – Ao identificar-se uma descontinuidade, rever claramente os objetivos e as razões dos movimentos táticos; ouvir e explorar ideias; estimular o pensamento criativo e focado e, rapidamente, decidir por uma mudança de rumo. No planejamento tático são necessários mais visão e envolvimento pessoal do que análise de relatórios, muitas vezes enviesados ou até maquiados.
  • Intimidade com o negócio – Conhecer o negócio exige familiaridade, um entendimento equivalente ao que o oleiro tem com o barro. Mão na massa. Relatórios analíticos ou resumo de fatos estão disponíveis a qualquer um. Importante é ter uma visão periférica e extrair coisas que outros não percebem.
  • Competência para gerir padrões – Igualmente importante é ter a habilidade para detectar padrões emergentes, tanto aqueles que poderão ser aceitos e adotados como facilitadores dos movimentos táticos como os que poderão contaminá-los. No primeiro caso, que surgem com novas ideias, é preciso ajudá-los a tomar forma; no segundo, o desafio está em controlar as pragas, aquilo que à primeira vista e antes de uma análise mais detalhada parecem inofensivas ou úteis, até o instante em que se identificam como daninhas. Quando se propagam, mostram os danos e a extensão de sua contaminação. Os líderes precisam estar sempre muito atentos e decidirem rapidamente.
  • Follow-up – Observar o progresso dos resultados e agir; incorporar padrões que se provarem úteis. Da mesma maneira que se espera dos líderes decisões rápidas para excluir o que não serve, também se deseja que incorporem ideias, muitas vezes emanadas da própria equipe, aos planos que diferenciam a empresa de seus concorrentes.
  • Flexibilidade x Constância – Há instantes em que torna necessário optar entre deslocar o guarda-chuva estratégico, ou mantê-lo, para se ter um equilíbrio dinâmico entre mudanças e continuidade.

Quando os resultados são insatisfatórios e a produtividade baixa, fazem-se necessárias mudanças às vezes radicais. Quando o crescimento é prolongado, é preciso pensar em semeaduras de outras espécies, de outros produtos e serviços. Assim como na natureza nada é permanente, o mesmo ocorre no planejamento: não se pode viver só de estabilidade, pois o envelhecimento e a decadência são inevitáveis; por outro lado, em mudanças contínuas, quando a perseverança é desprezada, nada se enraíza e frutifica.

Assim perpetua-se o ciclo de planejamento. O estratégico com antecedência de pelo menos dois meses do período em questão, normalmente o ano novo. Iniciado o ano os movimentos táticos são acionados.

Largada na frente dos adversários, permanência na vanguarda com velocidade segura e constante, com foco nas metas e na reação do mercado. A liderança e sua equipe podem colecionar sucessos sem sofrer da síndrome do final do mês ou do ano, quando se corre loucamente para compensar os atrasos e descuidos por não cumprir o planejado.

Planejamento sem ação é mero devaneio. Ação sem planejamento é uma aventura com grandes chances de fracasso.