Inteligência Emocional do Líder
Claudiney Fullmann
Há pelo menos dois mil anos discute-se a relação entre razão e emoção. Os filósofos, os estóicos da Grécia e Roma antigas, acreditavam que a emoção podia ser demasiado imprevisível para ter alguma serventia para o pensamento racional. A expressão dos sentimentos estava fortemente associada à natureza feminina e era representativa de aspectos frágeis e inferiores do ser humano. Os estereótipos relativos ao gênero, como o de “mulheres são mais emotivas” e que “homens não choram”, aos poucos estão se dissipando.
Muitas noções foram derrubadas durante o desenvolvimento da psicologia moderna. Uma nova maneira de pensar as emoções e o pensamento surgiu quando os psicólogos articularam definições mais amplas de inteligência e também novas perspectivas sobre a relação entre sentimento e pensamento.
Na década de 30, o psicometrista Robert Thorndike mencionou a possibilidade de que as pessoas pudessem ter inteligência social – a habilidade de perceber estados internos, motivações e comportamentos de si próprio e dos outros e de agir de acordo com essa percepção. Em 1983, o professor Howard Gardner, da Universidade de Harvard, propôs umainteligência intrapessoal, semelhante à atual conceituação de inteligência emocional.
Na década de 90, a “inteligência emocional” tornou-se tema de vários livros (e até bestseller) e de uma infinidade de discussões em programas de TV, escolas e empresas. O interesse da mídia foi despertado pelo livroInteligência Emocional, de Daniel Goleman, em 1995.
Inteligência emocional foi definida como o conjunto específico de aptidões usadas no processamento e conhecimento das informações relacionadas à emoção. Ela expressa um estágio na evolução do pensamento humano, a capacidade de sentir, entender, controlar e modificar o estado emocional próprio ou de outra pessoa de forma organizada.
Os cientistas Peter Salovey e John D. Mayer dividiram a inteligência emocional em quatro domínios:
1- Percepção das emoções – inclui habilidades envolvidas na identificação de sentimentos por estímulos: através da voz ou expressão facial, por exemplo, a pessoa que se sobressai nessa habilidade percebe a variação e mudança no estado emocional de outra;
2- Uso das emoções – implica a capacidade de empregar as informações emocionais para facilitar o pensamento e o raciocínio;
3- Entender emoções – é a habilidade de captar variações emocionais nem sempre evidentes;
4- Controle (e transformação) da emoção – o aspecto mais habitualmente identificado da inteligência emocional – a aptidão para lidar com os sentimentos.
Os testes tradicionais de QI (Quociente de Inteligência) medem a capacidade cognitiva da pessoa. Já os de IE (Inteligência Emocional), baseados na habilidade, são vulneráveis a interpretações subjetivas do comportamento. O maior problema enfrentado quando se trata de medição de inteligência emocional é como avaliar as respostas “emocionalmente mais inteligentes”: uma pessoa pode resolver situações que envolvem componentes emocionais de diversas maneiras.
Trazendo estas revelações para o líder, percebe-se que o relacionamento interpessoal no trabalho exige mais do que o conhecimento técnico para o sucesso profissional. Mais que QI, exige empatia, iniciativa, habilidade de trabalhar em equipe e flexibilidade. Enquanto o QI é permanente, a IE é passível de ser aprendida e aprimorada.
Buscando em dicionário, encontra-se em psicologia a definição de emoção: “reação intensa e breve do organismo a um lance inesperado, a qual se acompanha dum estado afetivo de conotação penosa ou agradável”.Liderança: “forma de dominação baseada no prestígio pessoal e aceita pelos dirigidos; espírito de chefia”. Criei então a liderança emocional: forma de condução positiva das pessoas, estimulando reações agradáveis, orientando-as para conseguir melhor desempenho, satisfação pessoal e felicidade.
Já mostramos, em outras ocasiões, que um líder precisa ter estabilidade emocional, ser uma rocha para oferecer segurança e apoio aos seus liderados. Independente dos tipos de indivíduos, conforme seus processos de raciocínio – Conhecedor, Deliberador, Idealizador ou Conciliador – todos temos emoções, sentimentos que se alteram nos diferentes momentos da vida.
Na liderança emocional, ele usa a emoção como precursora da razão ao relembrar os sonhos e possibilidades de conquistar metas mais audaciosas. Inspira confiança irrestrita, franqueza total, intimidade com a forma de raciocínio do outro e cumplicidade com os resultados.
Analisemos este exemplo: Na fusão entre a corretora Salomon Brothers e a financeira Smith Barney, relata-se a atitude de dois executivos:
Um chefe reuniu seu grupo e disse: “Não sei o que vou fazer, mas não esperem que eu seja bonzinho com vocês. Tenho que despedir metade do pessoal e não tenho bem certeza de como vou tomar essa decisão. Assim, quero que cada um de vocês me dê seus antecedentes e qualificações, para que eu possa começar”.
Um outro líder falou assim: “Acho que a nova companhia será muito excitante para nosso trabalho. Temos a felicidade de contar com pessoal talentoso em ambas as organizações. Vamos decidir o mais depressa possível, mas não antes de termos certeza de haver reunido informações suficientes para sermos justos. Manteremos vocês informados. Vamos decidir tanto com base no desempenho quanto nas capacitações qualitativas, como o modo de trabalhar em equipe”. Imagine-se no lugar dos empregados e escolha: com quem você preferiria trabalhar?
Mark Loehr, diretor-gerente da Salomon Smith Barney, alegou posteriormente que “os empregados do segundo grupo tornaram-se mais produtivos, porque estavam empolgados com o potencial da situação. E sabiam que, mesmo que ficassem sem o emprego, a decisão teria sido justa. Mas no primeiro grupo, ‘todos ficaram desmotivados’. O que entenderam foi ‘não estou sendo tratado com justiça’. Ficaram amargurados, desmoralizados. As pessoas diziam: ‘Nem sei se quero trabalhar mais com esse cretino, muito menos nessa companhia’. Alguns dos melhores talentos deixaram a empresa, o que não aconteceu no outro grupo”.
Na liderança emocional, o líder deve mostrar a estrada em que o liderado está, apontar opções e ajudá-lo a tomar um novo caminho e a persistir em suas escolhas. Sabe-se que quanto maior a mudança de direção, tanto menor será o prazo que levará para a visualização de um novo cenário.
Esta liderança emocional não deve ocorrer apenas em momentos de crise; é preciso construir, paulatinamente, um espírito de cooperação e confiança na equipe com a manutenção de conversas colaborativas, não apenas de cobrança mas de expansão da capacidade das pessoas de pensarem e trabalharem juntas, quando se podem expressar honestamente as dissidências e gerar um diálogo de qualidade que leva a um modelo mental compartilhado.
Neste contexto, o líder precisa desenvolver crenças:
- no propósito da sua organização;
- na integridade de seus superiores;
- no seu talento para executar a parte que lhe compete na missão e nos resultados da sua organização;
- na capacidade de sua equipe para atingir as metas a que se propuseram;
- de que suas crenças se reproduzirão sempre na mesma linha.
Inteligência emocional induz à sabedoria – dom do discernimento. Estabilidade emocional é equilíbrio, firmeza; é a habilidade de manter o nível emocional inalterado ao enfrentar as ondas trazidas pelos altos e baixos da vida. A estabilidade emocional começa com o sentimento que você nutre por si mesmo. É a habilidade de olhar para a existência que se estende à sua frente – saber que haverá altos e baixos e acreditar que você poderá ganhar experiência em ambas as situações.
Na liderança emocional, líderes produzem energia emocional, energia que motiva sua gente a engajar-se e comprometer-se. A energia própria de suas equipes irrompe, contagia o ambiente e grandes intentos se realizam.
Deixe extravasar suas emoções: a razão não será diluída, a mente ficará amadurecida e os horizontes, expandidos.
“Nossas dúvidas são traiçoeiras e nos fazem perder
o bem que poderíamos obter por medo de tentar”. (Shakespeare)