AS VIRTUDES DO KNOW-HOW E DO KNOW-WHY
Para obter infinitos ganhos de eficiência
Prof. Eng. Claudiney Fullmann, Ph.D.
Em vez de dar o peixe é melhor ensinar a pescar!
Basta iniciar a frase e todos exclamam: “Ensinar a pescar”?!
Dar vicia, acomoda, não faz as pessoas extraírem o melhor de sua capacidade, de sua inteligência; não cria estímulo, não valoriza a conquista nem o prazer da realização pessoal.
Ensinar permite a transferência de sabedorias, estimula o crescimento e a ampliação das dimensões dos saberes: ser, fazer e ter. Neste processo, a demonstração do como leva o aprendiz a repetir o mesmo método utilizado por quem ensina. Imaginemos um avô ensinando seu neto a pescar com vara. O garoto sempre voltará a pescar com vara, ele adquiriu o know-how – o saber como, que é limitado por não buscar ir além.
Quase tudo que uma criança aprende na infância é por observação de como alguém pratica ou se comporta em determinadas situações.
Muitas empresas adquirem tecnologia por contratos de cessão de know-how, que as permite repetir o que o detentor do conhecimento faz. Este já cometeu acertos e erros, revisou processos e métodos, registrou patentes e vende sua experiência para quem continuar imitando seu sucesso.
Entretanto, mantendo a analogia com a pesca, melhor ainda do que ensinar a pescar, ou ceder o know-how, é conscientizar da importância, do porquê de comer peixe e daí estimular a pescá-lo. Ao criar tal necessidade, aprofunda-se no know-why – na teoria subjacente à prática. Ampliando o exemplo da pesca, observa-se que um índio pesca com flecha, um urso com um tapa, águia no mergulho, e um indivíduo sobre um lago congelado faz sua pesca abrindo um buraco na espessa camada de gelo com uma broca e jogando uma linha com uma isca.
Cada qual desenvolve seu método em função de sua habilidade e disponibilidade de recursos. O know-why permite ampliar a criatividade e até mesmo o empreendedorismo na busca de soluções e mercados que outros ainda não enxergaram. Em termos estratégicos, surgem como conceitos-chave a coragem, o entusiasmo e o empenho, que conduzem ao aprimoramento da capacidade de inovação
A grande virtude está em colocar a teoria na prática, em mesclar o know-why com o know-how, em ensinar o como e o porquê.
Certa vez, vi num quadro na parede de uma repartição:
“Teoria é o entendimento de como as coisas funcionam. Prática é o funcionamento das coisas mesmo sem entender seu por quê. Aqui utilizamos teoria e prática: nada funciona e ninguém sabe por quê.”
Não é o que recomendo; nem tampouco a chacota de que na prática a teoria é outra. No desenvolvimento das técnicas japonesas, a maior virtude foi a colocação na prática das teorias desenvolvidas no Ocidente, com racionalizações e simplificações. Posteriormente, o mundo todo passou a copiar as melhorias que fizeram nas cópias iniciais com o lean manufacturing.
Sempre podemos melhorar é um lema que adoto nos cursos de engenharia. Observando a prática utilizada pode-se descrever o processo e o método de trabalho, ou seja, o know-how utilizado. Cotejando cada etapa com as teorias consagradas adotadas na Dynamic Production Strategy, identifica-se o know-why mais adequado e propõem-se mudanças que reduzam tempos e esforços e, consequentemente, custos.
As soluções encontradas, frutos de detecções de inúmeros desperdícios que se acumulam ao longo de muitos trabalhos com fluxos insatisfatórios, melhoram significativamente os resultados, tanto pela redução de lead time, espaço de trabalho e materiais em processo, quanto pelo aumento de ganhos e produtividade.
Considerando-se que, no desempenho do trabalho com grande participação de pessoas, cerca de 70% é atribuído ao componente comportamental e apenas 30% ao técnico, pode-se concluir que o conhecimento do know-why é mais eficiente que o know-how por permitir maior envolvimento pessoal nas tarefas. Quando se sabe o porquê de se efetuar determinado trabalho, o engajamento é maior e a participação mental quebra a monotonia da rotina mecânica.
Um líder que possui um Ponto de Vista Educativo consegue desenvolver melhor suas equipes com o know-how, quando as capacita para a realização de uma tarefa – ele ensina o como – e com o know-why – quando lhes explica os porquês. As pessoas que recebem informação, educação e motivação ficam energizadas para assumirem autonomia, serem seus autogerentes.
Mesmo em uma atividade braçal, é necessário que o executante use a inteligência, pense, crie, interaja e tenha satisfação pelo que realiza. Combinando know-why e know-how, qualquer ser humano pode ter o orgulho em declarar: “Fui eu que fiz”!