Planejamento tático

Planejamento tático

 

Por Claudiney Fullmann

Edição 01/2012

Começa um novo ano. O calendário fiscal para muitas empresas começa em janeiro, para outras, em outubro e, para algumas, somente após o Carnaval. Independentemente do critério escolhido, para ter domínio sobre seu negócio, planejar o futuro é o primeiro e mais importante passo para chegar ao resultado.

O planejamento estratégico deve ser feito com antecedência. Por exemplo: em outubro do ano anterior, para recomeçar as atividades no ano seguinte foram verificados os cenários, escolhidos os mercados, as estratégias operacionais, os planos de investimentos e de desenvolvimento do capital humano e as análises dos concorrentes.

Uma simples extrapolação dos resultados obtidos é tão perigosa quanto dirigir um automóvel olhando apenas pelo retrovisor, com um plástico preto cobrindo o para-brisa. O que ocorreu no passado pode não se repetir em um futuro próximo. Se mercados, concorrentes e tecnologias mudam, permanecer com a mesma estratégia não é recomendável.

Às lideranças, compete a formulação das estratégias, das quais resultarão definições sobre a posição que a empresa ocupará no mercado, sua imagem e as principais políticas e contribuições econômicas e não-econômicas que pretendem dar a acionistas, clientes, empregados e comunidade.

No planejamento estratégico, teve-se uma antevisão do campo de batalha a ser atravessado durante o novo ano fiscal, para chegar ao lucro e, consequentemente, obter um retorno sobre o investimento, sendo ele superior ou pelo menos igual ao do ano anterior. Chegou, então, o momento do planejamento tático.

Segundo o dicionário Aurélio, planejamento é: “Trabalho de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados; elaboração por etapas, com bases técnicas, de planos e programas com objetivos definidos”.

“Tática, do grego taktiké, é a arte de manobrar tropas. 1. Parte de arte de guerra que trata da disposição e da manobra de forças durante o combate ou na iminência dele. 2. Parte da arte da guerra que trata de como travar um combate ou batalha. 3. Processo empregado para sair-se bem em um empreendimento. 4. Meios postos em prática para sair-se bem em qualquer coisa.

“Tático, do grego taktikós, é algo capaz de colocar em ordem; movimento tático”.

Planejamento tático, portanto, é a preparação de um plano detalhado e preciso de ações (o que), meios e recursos (como) e responsáveis (quem), motivado pelo comprometimento de reunir forças, pensamentos e instrumentos para a realização das tarefas previstas. Tais planos deverão prever consequências negativas, reações adversas e obstáculos que podem surgir durante o movimento.

Essa preparação é uma transição entre o planejamento estratégico e o plano de ação, a fim de programar uma estratégia já criada e trabalhar formalmente as implicações que possam surgir durante sua aplicação. Um processo essencialmente analítico por natureza, pois constitui-se da de composição do planejamento estratégico em diversos planos e diretrizes.

Os líderes das áreas de engenharia, marketing e comercial, logística e industrial devem estar bem sintonizados nos momentos de lançamento de novos produtos, de ampliação da capacidade de produção, de movimentos da concorrência e de mudanças no comportamento dos consumidores. Análises rápidas e precisas devem ser focadas no cliente e nos resultados econômicos da empresa.

Os movimentos táticos devem ser ágeis e surpreendentes. No comércio eletrônico, a velocidade das informações tornou-se vertiginosa. A publicidade da marca e a propaganda de um determinado produto ou serviço encontram reação instantânea nos consumidores. Com poucos cliques eles selecionam, comparam, compram e pagam, durante 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Assim como a tecnologia, a qualidade e o preço são julgados no instante de decisão da compra, a promessa de entrega em determinada data passa a ser o fator de ansiedade do consumidor. Prazo curto e pontualidade são hoje os principais fatores de diferenciação, o que implica em movimentos táticos precisos dos fornecedores e distribuidores.

Na sociedade contemporânea, no mundo da velocidade e do imediatismo, sabe-se que há intolerância a atrasos. Ninguém gosta de esperar pelo cumprimento de uma promessa ou acordo, mesmo que verbal.

Para implementar as ações visualizadas no planejamento estratégico, são necessárias competências básicas do planejamento tático:

  • Habilidade para detectar descontinuidades – Sabe-se que ambientes não mudam com base em algo regular ou ordenado. A natureza nos ensina isso. Assim como os brotos de uma planta podem afetar seu crescimento, ou o vento e a luz podem alterar sua conformação, o mesmo acontece com o plano tático. Os líderes precisam ter uma mente aguçada em contato com a situação, já que descontinuidades são inesperadas e irregulares. Ao iniciar um plano, nem sempre é possível deixá-lo correr solto, porque qualquer vento desfavorável interfere no seu rumo.
  • Habilidade para cambiar pensamentos – Ao identificar uma descontinuidade, deve-se rever claramente os objetivos e as razões dos movimentos táticos: ouvir e explorar ideias, estimular o pensamento criativo e focado e, rapidamente, decidir por uma mudança de rumo. No planejamento tático, é necessário ter mais visão e envolvimento pessoal do que análise de relatórios, muitas vezes enviesados ou até maquiados.
  • Intimidade com o negócio – Conhecer o negócio exige familiaridade, um entendimento equivalente ao que o oleiro tem com o barro. Mão na massa. Relatórios analíticos ou resumo de fatos estão disponíveis para qualquer um. É importante ter uma visão periférica e extrair coisas que os outros não conseguem perceber.
  • Competência para gerir padrões – Igualmente necessário é ter habilidade para detectar padrões emergentes, tanto aqueles que poderão ser aceitos e adotados como facilitadores dos movimentos táticos, como os que poderão contaminá-los. No primeiro caso, daqueles que surgem com novas ideias, é preciso ajudá-los a tomar forma. No segundo, o desafio está em controlar as pragas – aquilo que, à primeira vista, e antes de uma análise mais detalhada, parecem inofensivas ou úteis, mas que acabam sendo identificadas como ervas daninhas. Quando se propagam, mostram os danos e a extensão de sua contaminação. Os líderes precisam estar sempre muito atentos e tomar decisões rapidamente.
  • Follow-up – Observar o progresso dos resultados e agir, incorporar padrões que se provem úteis. Da mesma maneira que se espera dos líderes decisões rápidas para excluir o que não serve, também espera-se que incorporem ideias – muitas vezes emanadas da própria equipe – aos planos que diferenciam a empresa dos seus concorrentes.
  • Flexibilidade x constância – Há instantes em que torna-se necessário optar entre deslocar o guarda-chuva estratégico ou mantê-lo para ter um equilíbrio dinâmico entre mudanças e continuidade.

Quando os resultados são insatisfatórios e a produtividade é baixa, fazem-se necessárias mudanças às vezes radicais. Quando o crescimento é prolongado, é preciso pensar em semeaduras de outras espécies, de outros produtos e serviços. Assim como na natureza nada é permanente, o mesmo ocorre no planejamento: não é possível viver só de estabilidade, pois o envelhecimento e a decadência são inevitáveis; por outro lado, em mudanças contínuas, quando a perseverança é desprezada, nada se enraíza e frutifica.

Perpetua-se assim o ciclo de planejamento. Sendo estratégico com antecedência de pelo menos dois meses do período em questão, normalmente o Ano Novo. Iniciado o ano, os movimentos táticos vão sendo acionados.

Largada na frente dos adversários, permanência na vanguarda com velocidade segura e constante, foco nas metas e na reação do mercado são os grandes movimentos que garantem a vitória. Liderança e equipe podem colecionar sucessos sem sofrer da “síndrome do final do mês” – ou do ano, quando se corre loucamente para compensar os atrasos e descuidos por não cumprir o planejado.

Planejamento sem ação é mero devaneio. Ação sem planejamento é uma aventura com grandes chances de fracasso.