LÍDER – BÚSSOLA DA EQUIPE

LÍDER – BÚSSOLA DA EQUIPE

Claudiney Fullmann

Imaginemos um barco em alto mar navegando tranquilamente, com todos ocupados em seus afazeres, quando, de repente, uma tempestade agita o mar, os ventos quebram o mastro, elevam as ondas, que inundam o convés e invadem as acomodações. Gente que cai, se machuca, entra em desespero, agarra-se no que encontra, fica desnorteada – um caos.
O socorro virá do alto e da direção do líder. Todos se voltam para o comandante e dele esperam um rumo, palavras de orientação e estímulo diante da realidade. O que fora julgado uma “marolinha” tornou-se umtsunami.
Nas empresas a crise é parecida. Aparentemente tudo estava tranquilo e, de um dia para o outro, a ciranda financeira se perdeu, os mercados estagnaram, os estoques se avolumaram, a inadimplência inundou as dívidas, as pessoas perdem o passo e não sabem mais o que fazer. Aguardam ordens, ampliam preocupações, sentem medo e pensam no pior. Os líderes, também dentro do mesmo barco, sentem as mesmas angústias, mas têm de decidir. Deles se espera, como do ponteiro de uma bússola, que apontem para a direção a seguir, garantindo os resultados dos negócios, mas, ao mesmo tempo, mantendo a sensibilidade com as pessoas. Após os cortes dos Custos Diretamente Variáveis com as vendas – matérias-primas, insumos, energia – sobram as Despesas Operacionais – folha de pagamento, encargos e benefícios – que passam a ser fixas e de grandes proporções.
É o momento de encarar a realidade como ela é, não como foi ou gostaríamos que fosse, como dizia Jack Welch. Um líder, com a firmeza de seu caráter, busca os valores que regem a empresa e sua vida. Com integridade, avalia a situação e aponta o caminho. Nem sempre é o mais bonito, nem o menos sofrido. Muitas vezes, em consequência das leis protecionistas que quebram o equilíbrio econômico da empresa, a incontestável decisão racional acontece: corte de pessoas.
Como é terrível o momento cirúrgico da dispensa do emprego, que impacta a vida de muitos outros dependentes. Nesse instante, o líder volta a ser a bússola que vai orientar a equipe e a empresa rumo à salvação. Dele se esperam rápidas e profundas análises dos fatos e tomadas de decisão, que também devem ser muito rápidas. É o choque da realidade. Pensar nas ações e suas consequências imediatas olhando para o futuro, onde o negócio pode prosperar. É o momento de agir; não procrastinar nem esperar a situação piorar. A empresa precisa sobreviver e voltar a crescer, quando então voltará a contratar talentos.
Mas quem demitir e quem preservar?
Antes de tudo, devemos fazer duas avaliações:

  • Produtividade – o medidor mais eficaz para a equipe.

As atividades de uma equipe, ou um departamento, sempre estão direta ou indiretamente vinculadas aos resultados da empresa. Se não estiverem, para que existir? Sua produtividade pode ser medida por um cálculo simples: a relação entre o ganho da empresa (faturamento líquido menos custos diretamente variáveis) e a despesa operacional da equipe. Por ser um medidor relativo, são necessários pelo menos três valores tomados em instantes diferentes para verificar sua tendência, melhor visualizada em um gráfico. Do confronto entre o que estava antes e depois da crise, identificam-se as equipes que estão com suas despesas operacionais mais elevadas, onde devem se efetuar os cortes. Esta avaliação é mais adequada do que a imposição de corte de um determinado porcentual igual para todas as áreas.

  • Meritocracia – o melhor critério de avaliação do desempenho do indivíduo.

Dentro das equipes, a meritocracia orienta a decisão de corte. O instante requer uma avaliação isenta de sentimentos, exclusivamente baseada no desempenho comprovado pelo cumprimento e superação das metas individuais. Embora a situação seja dolorosa, nela não há espaço para decisões protecionistas: todos temos problemas pessoais, e qualquer decisão sentimental trará piores consequências futuras para a equipe e para a empresa. Cada um é pago pelo que produz, não pelo currículo que tem ou pelos potenciais não comprovados. A comunicação da dispensa deve ser individual e conduzida pessoalmente pelo próprio líder. Não é atribuição do RH. Comentar sinceramente a base da decisão. Não alegar que a cúpula mandou. A seleção foi sua, com base na produtividade e no mérito. Não prometa recontratação após retomada. Pode ser falso. Sua verdadeira avaliação poderá ser útil para a pessoa repensar suas atitudes e florescer em outro ambiente.
Em meio à crise, quando a maturidade pode baixar um pouco, o líder não pode fraquejar. Ele deve buscar em forças interiores a motivação própria para exercer seu papel. Experiências mostram que o corte deve ser profundo e único para que as lágrimas corram todas de uma só vez, sem deixar pânico nas pessoas, que se julgarão a bola da vez na próxima semana, nem desmotivar os talentosos necessários para recuperar o negócio.
No dia seguinte, a bússola deve estar mais presente ainda para controlar os resultados, corrigir eventuais desvios e retomar o leme para a direção anteriormente planejada. Uma nova motivação, sem euforia, alicerçará o novo sucesso.
Esse é um momento precioso para aprender com a experiência e evitar recorrência. Somos obrigados a reconhecer que a responsabilidade, e quase sempre culpa, é dos líderes. Algumas considerações são essenciais:

  • Produtividade com métodos mais eficientes. Muitas vezes as equipes são inchadas por decisões erradas no passado. É bastante comum os chefes pedirem mais gente quando a carga de trabalho aumenta, em vez de melhorar a produtividade. Por isso sempre aconselho: antes de dispensar alguém, pense duas vezes; mas antes de admitir alguém, pense cinco. Avalie os efeitos colaterais, os ramos negativos que brotarão quando o volume de trabalho diminuir.
  • Raramente uma crise é acidental. Nenhuma tempestade se forma de repente. Nuvens escuras, mudança de direção dos ventos, agitação das águas, mostram sinais que um líder tem a obrigação de perceber. Sabe-se que a maioria dos acidentes poderia ser evitada. Uma crise, mais ainda.
  • A direção eficaz de uma equipe requer uma atenção permanente. A supervisão tem o aspecto de uma visão superior, que vê além, percebe mudança de rumo, antecipa consequências e age. Pequenas correções são naturais para superar os obstáculos que surgem ao longo da jornada; não são traumáticas.
  • Integração com a equipe. Esta, por sua vez, espelha-se no líder como quem navega atento à bússola. Uma equipe afinada com seu líder, conhecedora da firmeza de sua direção e confiante nos acertos de sua decisão, sente-se naturalmente estimulada a apontar desvios, a alertar para sinais percebidos. Os membros dessa equipe, mais próximos dos fatos, sentem as primeiras e sutis alterações de ruídos, vibrações, cheiros, aquecimentos ou resfriamentos e, com uma comunicação fluida, instantânea e consistente, alerta seu líder que, imediatamente, confere, confronta, julga e decide.

No grau mais elevado de eficácia, tudo funciona com equilíbrio e harmonia. A bússola é transparente a todos. Emocionalmente ligada, essa gente visualiza o panorama positivo e está preparada para os revezes dos negócios e da vida.
Lembre-se: é no momento de crise, ou antecipando-se a ela, que os grandes líderes se destacam.